De que criança(s) estão falando?: Análise dos memes veiculados no Brasil no período da pandemia do coronavírus
Resumo
Este texto objetiva analisar os memes veiculados no Brasil no período da pandemia do coronavírus, buscando compreender as imagens sociais de crianças e infâncias evidenciadas neste atual momento. As principais medidas de proteção adotadas, nomeadamente o isolamento social, o fechamento das escolas e creches, e a abertura apenas dos serviços essenciais obrigaram as famílias a um convívio constante em um mesmo ambiente. Como forma de representação da realidade, os memes são rapidamente produzidos e disseminados, com a intenção de serem uma forma de entretenimento divertida e bem humorada. Entretanto, evidenciam ideias pejorativas sobre as crianças e como é tê-las sob os cuidados exclusivos da família. Foram identificados 38 memes em diferentes redes sociais, sendo possível elencar como temas emergentes à violência contra criança, a instituição escola/creche como solução ou depósito das crianças, a sobrecarga materna, o machismo, dentre outros. Verificou-se que os memes retratam uma infância branca, de classe média, cujas experiências acabam por ditar a idealização de uma infância padrão mas que invisibiliza outros modos de vida. As imagens que emergem da análise são: crianças como problema, crianças como sujeitos em desenvolvimento e crianças matáveis. Tais imagens não surgem com a pandemia, mas se potencializam neste contexto. Conclui-se que as crianças são reiteradamente silenciadas, havendo um apagamento da infância enquanto categoria geracional, sendo na pandemia este mais um fenômeno que está sendo compreendido na perspectiva adulta.
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