Das representações às experiências femininas vividas: As irmãs Maria e Leonor Teles na corte e na cronística portuguesas da Baixa Idade Média
Résumé
No contexto nobiliárquico e da corte régia portuguesa de finais da Idade Média os papéis de gênero de homens e mulheres se afiguravam distintos, em que pesem as tentativas e possibilidades de privança junto ao rei de ambos os gêneros. Nesse âmbito, as figuras femininas das irmãs D. Leonor (1350-1386) e D. Maria (1338-1379) Teles de Meneses possibilitam a compreensão de distintas posições, estratégias, papéis e valores que mulheres da nobreza ibérica poderiam assumir no ambiente cortesão. D. Leonor conquistaria o rei D. Fernando e a posição de rainha de Portugal (a despeito de já ter contraído matrimônio e tido um filho com um nobre), obtendo grande participação nas decisões régias e no aumento da privança de sua linhagem junto à realeza. D. Maria Teles, viúva com patrimônio considerável, casaria com o irmão natural do rei, o infante D. João de Castro, para quem a união se mostrava vantajosa em termos principalmente patrimoniais. Os destinos das irmãs Teles de Meneses, apesar de ligados à corte régia portuguesa seriam distintos, mesmo que ambos infelizes ao final. A irmãs e suas trajetórias seriam representadas na cronística de Fernão Lopes no século XV a partir de dois perfis femininos moralmente opostos, num contexto ligado à consolidação de uma imagem oficial da dinastia de Avis. A Casa Real e seu cronista partem da reconstrução do passado e de personagens portuguesas ligadas ao contexto da crise dinástica de 1383-1385 para fixar e legitimar sua ascensão ao trono.