Recursos naturais são poder: a geopolítica das periferias latinoamericanas durante o boom dos preços das matérias-primas e a ascensão econômica da China

Resumo

O início do século XXI é caracterizado pela crise da ordem unipolar americana, cuja principal manifestação é o surgimento de economias emergentes ou semi-periféricas. A disputa entre centros e semiperiferia criou o contexto para as periferias latino-americanas aumentarem sua participação no poder global. Este artigo analisa os fatores que possibilitaram o período de empoderamento da região da América Latina no início do século XXI, a estratégia geopolítica seguida pelos governos da região, os resultados dessa estratégia e o declínio de sua eficácia. O empoderamento regional da América Latina foi baseado em uma aliança de interesses geopolíticos e econômicos com as semiperiferia, principalmente a China; no poder de negociação que gerou a demanda mundial por seus recursos naturais; e na receita recebida de suas exportações. Essa estratégia era vulnerável porque sua eficácia era sustentada pelos recursos monetários percebidos pelas exportações primárias. À medida que os preços dos bens primários caíam, os governos relacionados ao multilateralismo perderam o apoio da população, bem como essa nova parcela do poder internacional. Portanto, a estratégia latino-americana sofria das mesmas fragilidades do comércio exterior, baseando-se no aprofundamento de sua condição de periferia.