Kant contra Herder. Breve análise de um diferendo estético em torno de Shakespeare
Resumo
A teoria kantiana do génio, tal como formulada na Crítica da Faculdade do Juízo, apresenta uma análise parcimoniosa de exemplos artísticos e uma ausência demasiado eloquente – Shakespeare. Cutrofello (2007) e Zammito (1992) debruçaram-se sobre o silêncio de Kant a respeito de Shakespeare na Terceira Crítica, sustentando que tal postura kantiana constituiria uma rejeição da filosofia de Herder e das posições estéticas do Sturm und Drang. Este artigo pretende desmontar tais leituras, mostrando que a cisão entre Aufklärung e Sturm und Drang não poderá ser devidamente invocada para pensar a ausência de Shakespeare na Terceira Crítica: neste sentido, analisaremos as teorizações do Aufklärer Lessing acerca de Shakespeare, posições iniciadoras do movimento Geniezeit no contexto germânico; e comentaremos, ainda, uma passagem de Kant sobre Shakespeare retirada de Vorlesungen über Anthropologie, salientando que as afinidades entre Kant e o Sturm und Drang acerca de Shakespeare deverão ser meticulosamente tomadas em conta.